Urticária: fenótipos e opções terapêuticas
Urticaria: phenotypes and treatment options
Rosana Câmara Agondi
Médica Assistente do Hospital das Clínicas da FMUSP, Responsável pelo Ambulatório de Urticária
A urticária é uma doença cutânea heterogênea, podendo ser aguda ou crônica, sendo acompanhada de angioedema em 40 a 50% das vezes. A urticária, com ou sem angioedema, resulta da liberaçao de histamina e outros mediadores bioativos dos mastócitos e basófilos. A doença aguda afeta cerca de 20% da populaçao mundial em algum momento da vida, e pode estar associada a fator específico desencadeante, como um medicamento ou um alimento. A urticária crônica acomete, conforme a maioria dos estudos na literatura, 3% da populaçao geral, sendo mais prevalente nas mulheres e na faixa etária de 20 a 40 anos de idade. Independente de diferentes associaçoes etiológicas descritas, como autoimunidade, quadros psíquicos e infecçoes crônicas, a urticária crônica compromete a qualidade de vida, principalmente nos quadros mais graves, como ocorre com pacientes com urticária crônica referenciados a um centro terciário de tratamento. Este comprometimento é comparável ao dos pacientes idosos coronariopatas. O prurido intenso compromete o sono, que, por consequência, compromete as atividades diárias do paciente; e a imprevisibilidade dos sintomas, principalmente do angioedema, afeta o estilo de vida do paciente.
Embora a urticária crônica seja autolimitada, o tratamento medicamentoso para controle total dos sintomas deve ser mantido enquanto perdurar a doença. Mais de 20% dos pacientes apresentarao sintomas na maioria dos dias da semana, por mais de 5 anos. Os medicamentos considerados de primeira linha para tratamento da urticária sao os anti-histamínicos de segunda geraçao, em doses licenciadas ou, para aqueles pacientes sem resposta a esta dose, até quadruplicadas. Entretanto, cerca de metade dos pacientes nao responderao aos anti-histamínicos. Para estes pacientes, outros medicamentos sao recomendados e incluem os medicamentos com açao em outros mediadores, como antileucotrienos; os medicamentos considerados "anti-inflamatórios", como hidroxicloroquina, dapsona, sulfasalazina e colchicina; os medicamentos imunossupressores, como ciclosporina; e os imunobiológicos, como o omalizumabe.
Os únicos medicamentos licenciados para tratamento da urticária crônica sao os anti-histamínicos em doses habituais e o omalizumabe. O impacto positivo do omalizumabe no controle da urticária crônica é muito grande, com cerca de 25% dos pacientes com urticária crônica grave e refratária aos anti-histamínicos respondendo ao omalizumabe na primeira semana de tratamento.
Neste número, encontraremos três artigos em que os autores estudaram a urticária, aguda ou crônica. Em dois deles, há a caracterizaçao de pacientes que apresentaram a doença induzida ou exacerbada por anti-inflamatórios nao esteroidais. Em um destes e em outro estudo, avalia-se a resposta a duas opçoes terapêuticas, montelucaste e ciclosporina, para pacientes com urticária crônica refratária aos anti-histamínicos.
REFERENCIAS
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