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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Abril-Junho 2024 - Volume 8  - Número 2


ARTIGO ESPECIAL

Alérgenos alimentares em rótulos de produtos alimentícios: uma unificação da nomenclatura

Food allergens on food product labels: unification of nomenclature

Renan Augusto Pereira; Flávia Magalhães Guedes; Giovana Alves Gadelha; Gabriel Menin; Guilherme Pereira Menezes; Sérgio Luis Amantéa; Ana Trindade Winck


Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) - Porto Alegre, RS, Brasil


Endereço para correspondência:

Renan Augusto Pereira
E-mail: renanpereira.alergia@gmail.com


Submetido em: 09/01/2024
Aceito em: 10/06/2024.

Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação deste artigo.

RESUMO

A prevalência das alergias alimentares vem crescendo de forma significativa nas últimas décadas. A educação do paciente na leitura de rótulos e identificação dos alérgenos nos produtos alimentícios é fundamental, mesmo após a publicação da RDC nº 26/2015, que estabeleceu os requisitos de rotulagem dos principais alérgenos alimentares. Uma das maiores dificuldades é a utilização de numerosas terminologias diferentes que são utilizadas para nomear um ingrediente alimentício, além de não haver uma compilação destas nomenclaturas em uma única listagem. Neste trabalho, foi realizada uma listagem unificada das nomenclaturas dos quatro principais alérgenos alimentares com base nas listas preexistentes, a fim de uso na prática clínica e em projetos futuros envolvendo identificação dos alérgenos alimentares através de ferramentas de inteligência artificial.

Descritores: Hipersensibilidade alimentar, alérgenos, rotulagem de alimentos.




As alergias alimentares têm apresentado uma prevalência crescente nas últimas décadas. No Brasil, estima-se que cerca de 8% das crianças com até 2 anos e 2% dos adultos possam ter algum tipo de alergia alimentar1,2. Atualmente, o principal pilar no tratamento da alergia alimentar é a exclusão do alimento envolvido.

Nesta perspectiva, a leitura adequada dos rótulos alimentícios e a identificação de proteínas alergênicas por parte de pacientes e cuidadores é essencial. Em 2014, a Campanha "Põe no Rótulo" surgiu a fim de conscientizar a população sobre alergia alimentar e mobilizar ações para uma padronização da rotulagem dos alérgenos alimentares3. Em 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a RDC nº 26/2015, estabelecendo os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos implicados nas alergias alimentares4, possibilitando informações mais claras e acessíveis à população. Entretanto, alguns estudos recentes mostram que, mesmo após a publicação da Resolução, muitos rótulos ainda não estão em conformidade, seja pela falta de declaração de alérgenos, seja por erros de grafia. Um estudo realizado na Bahia, em 20235, demonstrou que não havia conformidade com a RDC nº 26/2015 em 27% dos rótulos alimentares analisados. Outro estudo realizado em Minas Gerais, em 20226, concluiu que 35% dos rótulos de produtos analisados não estavam em conformidade com a Resolução, a maioria deles (91,4%) por falta da declaração de alérgenos. Estes estudos reforçam a necessidade de contínua educação e reconhecimento ativo por parte da população na leitura de rótulos.

Uma das maiores dificuldades neste sentido é a extensa lista de terminologias que são utilizadas para nomear um ingrediente alimentício. A nomenclatura pode se apresentar não só na forma do alimento alergênico, mas também na forma de um derivado ou proteína do alimento alergênico. Além disso, frequentemente são utilizados termos técnicos ou científicos para se referir ao alérgeno, o que dificulta o entendimento e identificação pelo consumidor.

Diversas listas já foram publicadas em sites e consensos nacionais e internacionais, a fim de envolver as principais nomenclaturas de alimentos alergênicos7­10. Entretanto, uma busca rápida mostrou que as listagens se encontram incompletas. As Tabelas 1, 2, 3 e 4 contemplam uma listagem unificada e revisada dos quatro principais alérgenos alimentares que contemplam nomenclaturas variadas em rótulos dos produtos (leite, ovo, trigo e soja). Outros alérgenos listados na RDC (como amendoim, castanhas, nozes, camarão e peixes) não foram incluídos, pois sua nomenclatura se encontra mais visível em rótulos pelo nome do alimento em si, e não por termos alternativos.

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma listagem mais completa e abrangente permite uma padronização das listas incompletas publicadas, com o objetivo de utilização na prática clínica para educação do paciente com alergia alimentar. Adicionalmente, nosso grupo vem desenvolvendo, por meio de algoritmos de Inteligência Artificial, um aplicativo móvel capaz de ler rótulos alimentícios, identificar a presença de alérgenos e informar ao usuário, com intuito de auxiliar o cuidado de pacientes com alergias alimentares11. Para o desenvolvimento desta ferramenta, é necessária a utilização de uma listagem o mais completa possível, a fim de aumentar a sensibilidade do método na detecção de alérgenos.

 

Referências

1. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, ASBAI. Alergia Alimentar é o tema central da Semana Mundial [Internet]. 2019. Disponível em: https://asbai.org.br/alergia-alimentar-e-o-tema-central-da-semana-mundial/. Acessado em: 06 de janeiro de 2024.

2. Solé D, Silva LR, Cocco RR, Ferreira CT, Sarni RO, Oliveira LC, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 - Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):7-38.

3. poenorotulo.com.br [Internet]. Brasil: Põe no Rótulo [citado em 2014]. Disponível em: https://www.poenorotulo.com.br/sobre. Acessado em: 06 de janeiro de 2024.

4. Brasil, Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 26, de 02 de julho de 2015. Diário Oficial da União (02 de julho de 2015). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2015/rdc0026_26_06_2015.pdf. Acessado em: 06 de janeiro de 2024.

5. Martins LTS. Rotulagem de alimentos alergênicos: análise das informações. Revista Higiene Alimentar;37(296): e1113, Jan-Jun, 2023. doi: 10.37585/HA2023.01rotulagem.

6. Oliveira Andrade M, Alves DT, Nascimento WCA. Avaliação da rotulagem de alimentos e da conformidade quanto à declaração obrigatória de alergênicos. Alim: Cien Tecn M Amb. 2022; 3(1):14-25. Disponível em: https://revistascientificas.ifrj.edu.br/index.php/alimentos/article/view/2221.

7. Yonamine, GH, Pinotti, R. Alergia alimentar: alimentação, nutrição e terapia nutricional. 1ª ed. Barueri: Manole; 2020. 504 p.

8. Food Allergy Research & Education (FARE) [Internet], Estados Unidos. Disponível em: https://www.foodallergy.org/living-food-allergies/food-allergy-essentials/common-allergens. Acessado em: 06 de janeiro de 2024.

9. poenorotulo.com.br [Internet]. Brasil: Cartilha da Alergia Alimentar [Citado em 2014]. Disponível em: https://www.poenorotulo.com.br/_files/ugd/4f5582_f1dccdd773a14076b0fd271b534427fc.pdf?index=true. Acessado em: 06 de janeiro de 2024.

10. Canadá, Governo do Canadá. Allergens and gluten sources labelling [Internet]. Disponível em: https://www.canada.ca/en/health-canada/services/food-allergies-intolerances/avoiding-allergens-food/allergen-labelling.html. Acessado em: 06 de janeiro de 2024.

11. Gadelha GA. Processamento de Linguagem Natural aplicado na identificação de alergénos em rótulos alimentares [Trabalho de Conclusão de Curso]. Porto Alegre: Curso de Informática Biomédica: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); 2023.

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