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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Janeiro-Fevereiro 2014 - Volume 2  - Número 1


Artigo Original

Estaria o polimorfismo 55MM da PON1 associado à maior gravidade da doença em pacientes com imunodeficiência comum variável?

Would the PON1-55MM polymorphism be associated to higher disease severity in patients with Common Variable Immunodeficiency?

Bruno Carnevale Sini1,2; Sérgio Paulo Bydlowski3,4; Débora Levy5; Cristina M. Kokron3; Luciana M. F. Maselli6; Andrea Cohon3; Ana Karolina Barreto de Oliveira7; Jorge Kalil3; Myrthes A. M. T. Barros3


1. MSc. Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo, FMUSP
2. MSc. Laboratório de Genética e Hematologia Molecular, Universidade de Sao Paulo (LIM31)
3. MD, PhD. Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo, FMUSP
4. MD, PhD. Laboratório de Genética e Hematologia Molecular, Universidade de Sao Paulo (LIM31)
5. PhD. Laboratório de Genética e Hematologia Molecular, Universidade de Sao Paulo (LIM31)
6. PhD. Fundaçao Pró-Sangue, Hemocentro de Sao Paulo
7. MD, MSc. Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo, FMUSP


Endereço para correspondência:

Myrthes Toledo Barros
E-mail: myrtb@uol.com.br


Submetido em: 26/09/2014.
Aceito em: 12/04/2015.
Fontes financiadoras: Bruno Sini foi bolsista da CAPES. Laboratório de Investigaçao Médica em Imunologia Clínica e Alergia (LIM60). Laboratório de Investigaçao Médica em Hematologia e Biologia Molecular (LIM31).
Nao foram declarados conflitos de interesse associados à publicaçao deste artigo.

RESUMO

OBJETIVO: Investigar a presença dos polimorfismos Q192R e L55M no gene da Paraoxonase1 (PON1) em pacientes com imunodeficiência comum variável (ICV) e sua relaçao com morbidade e gravidade da doença.
MÉTODOS: Pacientes com ICV e controles saudáveis foram genotipados para os polimorfismos L55M da PON1 e avaliados em relaçao à atividade arilesterase. No grupo de pacientes foram analisados parâmetros de morbidade e gravidade da doença.
RESULTADOS: O genótipo 55MM e o alelo 55M foram mais frequentes no grupo ICV em relaçao ao grupo controle. Pacientes com o genótipo 55MM apresentaram menor atividade de PON1, associada a maior morbidade da doença representada pela maior frequência de infecçoes de vias aéreas e taxa de internaçoes. Por outro lado, a análise dos alelos demonstrou que a menor morbidade foi associada à presença do alelo 55L, que também apresentou relaçao com menor frequência de hiperplasia nodular linfoide (p = 0,007) e linfonodomegalia (p = 0,003) e menor ocorrência de óbitos (p = 0,039). Nao foi observada relaçao entre a presença de alelos ou genótipos do polimorfismo PON1 Q192R e a maioria dos parâmetros avaliados neste estudo.
CONCLUSOES: Este constitui o primeiro relato da maior frequência do polimorfismo 55MM da PON1 em pacientes com ICV. Nossos resultados sugerem que o alelo 55L pode estar associado a um melhor prognóstico. Por outro lado, os resultados sao sugestivos de que a presença do genótipo 55MM pode ser preditiva de maior morbidade e mortalidade em pacientes com ICV.

Descritores: Paraoxonase, paraoxonase 1, atividade arilesterase, morbidade, mortalidade, imunodeficiência comum variável.




INTRODUÇÃO

As paraoxonases (PON) provêm de uma família multigene de enzimas que inclui PON1, PON2 e PON3, localizadas no braço longo do cromossomo 7 (entre q21.3 e q22.1) em humanos. PON1, a mais estudada, encontra-se associada à apoA-I, integrante das lipoproteínas de alta densidade1. Embora o papel biológico mais conhecido das paraoxonases seja a prevenção da aterosclerose, elas também atuam sobre o estresse oxidativo envolvido na patogênese de outras condições, como doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, imunossenescência, AIDS e infecções1.

A PON1, a primeira paraoxonase descrita, é uma A-esterase que apresenta a capacidade de hidrolisar metabólitos ativos de vários inseticidas organofosforados, tais como parathion, diazinon e chlorpyrifos2. O gene de PON1 possui dois polimorfismos na sua região codificadora (M55L e Q192R) e diversos outros polimorfismos em regiões promotoras. O polimorfismo L55M é responsável pela alteração da estabilidade da enzima, enquanto o polimorfismo Q192R origina aloenzimas substrato-dependentes3.

Existem evidências de que esses polimorfismos estejam relacionados a fatores de risco para o desenvolvimento de neoplasias, especialmente câncer de mama4, pulmão5, câncer renal6, leucemia7 e linfomas não-Hodgkin8,9. No entanto, são escassos os estudos encontrados na literatura que abordam o papel das paraoxonases nas imunodeficiências primárias que cursam com infecções bacterianas recorrentes ou crônicas, como a imunodeficiência comum variável (ICV).

A ICV é a imunodeficiência primária sintomática mais comum e caracteriza-se pela redução dos níveis séricos de IgG e de pelo menos outro isotipo de imunoglobulina (IgA e/ou IgM), e pelo comprometimento da produção de anticorpos. Suas manifestações clínicas mais frequentes são infecções bacterianas de repetição ou crônicas de vias aéreas e trato gastrointestinal10, e também podem estar associadas doenças autoimunes/inflamatórias e neoplasias10. No presente estudo investigamos a relação entre os polimorfismos Q192R e L55M da Paraoxonase1 (PON1) em pacientes com imunodeficiência comum variável (ICV) e sua relação com morbidade e gravidade da doença.

 

PACIENTES E MÉTODOS

Casuística

Foram avaliados 61 pacientes com diagnóstico de ICV seguidos no Ambulatório de Imunodeficiências Primárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). O diagnóstico de ICV foi estabelecido na presença de níveis séricos baixos de IgG e IgA e/ou IgM e comprometimento da função de anticorpo de acordo com os critérios definidos por Ameratunga et al.11.

Foram analisados os seguintes parâmetros: 1) idade de início dos sintomas, idade ao diagnóstico da ICV, intervalo de tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico da doença e tempo total de doença; 2) taxa de internações, tempo total em dias de internação e duração de cada internação nos últimos 5 anos; 3) história de infecções de repetição e/ou infecção crônica de vias aéreas superiores (IVAS), pneumonia e diarreia; 4) presença de linfonodomegalia mediastinal e/ou abdominal, esplenomegalia, hepatomegalia, bronquiectasias; 5) alterações histológicas do trato gastrointestinal compatíveis doença celíaca (padrão celíaco-like), hiperplasia nodular linfoide (HNL), metaplasia intestinal e/ou gástrica; 6) história familiar de imunodeficiências primárias.

Todos pacientes estavam sob reposição mensal de imunoglobulina humana IV (IGIV) na dosagem de 400 a 600 mg/kg. A coleta de sangue foi realizada imediatamente antes da reposição da IGIV. Em todos os pacientes o início do tratamento com IGIV ocorreu entre um e dois meses após o estabelecimento do diagnóstico de ICV.

Não foram incluídos no estudo pacientes sob corticoterapia sistêmica prolongada, em uso de drogas citotóxicas, tabagistas e gestantes.

Como controles foram estudados 130 indivíduos voluntários saudáveis, de ambos os sexos, doadores de sangue na instituição onde o trabalho foi realizado.

Em pacientes e controles foi realizada genotipagem para os polimorfismos PON1-Q192R e PON1-L55M e atividade arilesterase da PON1.

Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da FMUSP, onde o trabalho foi realizado, e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi previamente obtido para cada paciente.

Os dados demográficos de pacientes e controles constam na Tabela 1.

 

 

Genotipagem

A extração do DNA genômico de células do sangue periférico foi feito pelo processo de salting out12. A genotipagem foi realizada através de PCR-RFLP multiplex para os polimorfimos Q192R e L55M de PON1, com posterior digestão do fragmento de DNA amplificado com enzima de restrição Hinf-I conforme descrito por Motti13.

Atividade de PON1

A determinação da atividade enzimática de PON1 foi feita através de cinética enzimática conforme descrito por Lorentz14 e modificado por Oliveira-Silva15, utilizando fenilacetato como substrato.

Análise estatística

Os dados contínuos, semicontínuos e semicategóricos foram inicialmente comparados com a Curva Normal pelo teste de Distância K-S e de Shapiro e classificados quanto à normalidade pela aderência à Curva de Gauss. Os dados categóricos foram representados por frequência absoluta (n) e relativa (%); para a análise das matrizes de contingência foi utilizado o teste de Qui-quadrado de Pearson. Foi considerado para todo o estudo risco alfa menor ou igual a 5% de cometer erro tipo I ou de 1ª espécie e risco Beta menor ou igual a 20% de cometer erro tipo II ou de 2ª espécie.

 

RESULTADOS

Características demográficas

Foi observado discreto predomínio de mulheres no grupo de pacientes e maior número de homens no grupo controle. A média de idade foi semelhante nos dois grupos. A idade de início dos sintomas variou desde um até 59 anos de idade, com média de 17,1 anos. A média de idade ao diagnóstico foi de 30,2 anos e a do período de tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico de ICV foi de 13,3, variando de 1 a 58 anos. O tempo de doença, representado pelo período de tempo entre a idade de início dos sintomas e a idade atual (ao final deste estudo) variou de 6 a 73 anos com média de 25,4 (Tabela 1).

Distribuição alélica e frequência de genótipos

A distribuição alélica e a frequência de genótipos referentes ao polimorfismo PON1-Q192R foram semelhantes nos dois grupos. No entanto, em relação ao polimorfismo PON1-L55M, foi observada maior frequência do alelo 55M (p = 0,0025) e do genótipo 55MM (p = 0,003) em pacientes com ICV, em comparação ao grupo controle (Tabela 2).

 

 

Atividade arilesterase da PON1

Não houve diferença quanto à atividade arilesterase entre os grupos ICV e controle. No entanto, a comparação entre os vários genótipos demonstrou que pacientes com o genótipo 55MM apresentaram atividade menor em relação aos genótipos 55LL e 55LM (p < 0,001). No grupo controle foi observada maior atividade arilesterase da PON1 associada ao genótipo 55LL (p < 0,001) (Tabela 3).

 

 

Comparação entre parâmetros clínicos e laboratoriais e genótipos do polimorfismo PON1 L55M

Pacientes com o genótipo 55MM apresentaram maior frequência de linfonodomegalia (p = 0,026), HNL (p = 0,012), IVAS (p = 0,001), pneumonias (p < 0,001) e maior taxa de internações (p = 0,029). Não houve diferença entre os 3 grupos genotípicos em relação aos demais parâmetros analisados neste estudo.

Comparação entre parâmetros clínicos e laboratoriais e alelos 55L e 55M

Pacientes com o alelo 55L apresentaram menor frequência de HNL (p = 0,007), linfonodomegalia (p = 0,003), IVAS (p < 0,001), pneumonias (p < 0,001), taxa de internações (p = 0,019) e ocorrência de óbitos (p = 0,039) (Tabela 5), não havendo relação com os demais parâmetro analisados.

 

 

 

 

Relação entre os polimorfismos PON1-L55M e internações hospitalares

Não foi observada diferença quanto ao número de internações (p = 0,683) e tempo total de internação (p = 0,771) realizadas nos últimos 5 anos entre os três grupos genotípicos. No entanto, pacientes com o genótipo 55LM apresentaram maior média referente à duração de cada internação (p = 0,031) (Tabela 6). Não houve diferença quanto a estes 3 parâmetros em relação à presença dos alelos 55L ou 55M (Tabela 7).

 

 

 

 

Comparação entre parâmetros clínicos e laboratoriais e polimorfismos PON1 Q192R

Não foi observada relação entre a presença de alelos ou genótipos do polimorfismo PON1 Q192R e a grande maioria dos parâmetros avaliados neste estudo, exceto para a presença de hepatomegalia em relação ao genótipo 192QR (p = 0,045).

 

DISCUSSÃO

Neste estudo de uma coorte de pacientes com ICV foram realizadas a genotipagem dos polimorfismos L55M e Q192R da PON1, a determinação da atividade hidrolítica de PON1 e a posterior comparação destes dados com a gravidade da doença.

Na família das paraoxonases, a PON1 foi a primeira a ser identificada e ainda atualmente é a mais estudada. Tem atividades paraoxonase, arilesterase e lactonase e, em condições fisiológicas, previne as modificações oxidativas da lipoproteína de baixa densidade (LDL), desempenhando assim papel protetor nos processos ateroscleróticos. A PON1 também atua sobre o estresse oxidativo envolvido na patogênese de outras condições como doenças inflamatórias intestinais, imunossenescência, AIDS, imunodeficiências primárias e infecções2.

O termo ICV engloba um grupo heterogêneo de síndromes que têm em comum níveis séricos diminuídos de IgG, IgA e/ou IgM com defeito na produção de anticorpos10. As infecções bacterianas de repetição ou crônicas ocorrem na grande maioria dos pacientes, embora possam estar presentes também infecções virais e oportunistas, doenças inflamatórias, autoimunidade e neoplasias16-18.

Esta grande heterogeneidade de manifestações clínicas pode dificultar o reconhecimento da doença, retardando seu diagnóstico em torno de 6 ou mais anos10.

Na presente casuística, o período médio entre o início dos sintomas e o estabelecimento do diagnóstico de ICV foi de aproximadamente 13 anos, o que está bastante acima dos relatos da literatura atual16. Considerando-se a longa evolução da doença em nossos pacientes (média de 25,4 anos), é possível que esta demora do diagnóstico seja devida ao fato de que em muitos deles os sintomas iniciais ocorreram em épocas em que havia grande desconhecimento da ICV por médicos generalistas, agravado pelo falso conceito de que as imunodeficiências primárias teriam apresentação inicial quase que exclusivamente em crianças.

Na maioria dos pacientes, o diagnóstico de ICV é estabelecido entre a 3ª e a 4ª décadas da vida, sendo que apenas 20% dos casos são diagnosticados abaixo dos 20 anos de idade10,16. Nossos dados corroboram essas observações, uma vez que a média e a mediana de idade ao diagnóstico foram 30,2 e 28 anos, respectivamente.

Pacientes com ICV apresentaram maior frequência tanto do alelo 55M quanto do genótipo 55MM em relação ao grupo controle, não sendo observadas diferenças em relação a outros polimorfismos da L55M ou Q192R. A distribuição das frequências alélicas e dos genótipos da PON1-L55M e PON1-Q192R no grupo controle foi semelhante àquela anteriormente descrita em São Paulo em doadores de sangue (dados não publicados).

A atividade arilesterase não diferiu entre pacientes e controles. A diferença observada quanto à distribuição de gêneros entre os dois grupos não interferiu nesta análise, uma vez que não têm sido relatadas diferenças entre homens e mulheres quanto a esta atividade da PON119. Entretanto, este achado deve ser cuidadosamente analisado, considerando-se que pode haver variações individuais na atividade arilesterase associadas a diferentes causas, como sedentarismo e hábitos de vida19, doença coronariana, diabetes, acidente vascular isquêmico, cirrose hepática e doença renal20.

As doenças acima não foram analisadas neste estudo dada sua baixa frequência no nosso grupo de pacientes. Também não foram consideradas no grupo controle, uma vez que os indivíduos por elas acometidos não são aceitos como doadores de sangue. No entanto, não foi possível descartar totalmente a existência de outros fatores que diminuem (tabagismo passivo, dieta aterogênica) ou aumentam (ingestão moderada de álcool, polifenóis e vitaminas C e E) a atividade da enzima21.

À semelhança de outras doenças como hepatites virais22, AIDS23, cirrose24,25 e doença de Crohn26, a ICV tem sido associada a um estado de ativação imune persistente27,28 decorrente de estímulo antigênico por agentes infecciosos e/ou associação com doenças inflamatórias, autoimunidade ou neoplasias16-18.

Aukrust et al. relataram aumento da peroxidação lipídica37 e alterações no metabolismo de glutationa e cisteína em linfócitos TCD4+38 em pacientes com ICV, sugerindo que o estímulo antigênico contínuo possa desempenhar algum papel na imunopatogênese da doença, assim como no desencadeamento de determinadas condições em subgrupos de pacientes com ICV.

As infecções crônicas ou recorrentes compreendem a principal complicação da ICV constituindo, deste modo, os fatores mais provavelmente implicados na alteração do estado redox nesta condição. A maioria dos pacientes neste estudo apresentou infecções, sendo as mais comuns as de vias aéreas superiores (77,7%), pulmonares (79,3%) e diarreia (58,7%), o que está de acordo com relatos da literatura16-18.

A atividade arilesterase não diferiu entre o grupo de pacientes com ICV e controles, assim como também não apresentou relação com os vários parâmetros analisados neste estudo. No entanto, em relação aos polimorfismos L55M, foi observada menor atividade em pacientes com o genótipo MM em comparação aos genótipos LL e LM. Este achado pode explicar, ao menos parcialmente, a menor prevalência de infecções de vias aéreas observada em portadores do alelo L (Tabela 5). Corroborando esta hipótese, atividade arilesterase mais elevada foi encontrada também nos controles sãos com o genótipo LL, o que está de acordo com os dados de literatura19.

A grande heterogeneidade das manifestações clínicas, ao lado do retardo no diagnóstico da ICV, pode contribuir para maior morbidade e mortalidade da doença. Numerosas condições presentes na ICV podem estar associadas à estimulação persistente do sistema imune como decorrência de processos infecciosos e/ou associação com doenças autoimunes10. Podem estar presentes processos linfoproliferativos benignos ou neoplásicos. Entre as manifestações consideradas benignas, as mais comuns são linfonodomegalia abdominal ou torácica, esplenomegalia e hiperplasia nodular linfoide, como a doença celíaca-like29-30. No presente estudo, a HNL foi diagnosticada em 5 pacientes e, como pode estar relacionada à presença de Giardia lamblia16,10, seu diagnóstico foi estabelecido somente após exclusão da presença deste protozoário. A análise dos dados demonstrou que o genótipo 55MM apresentou relação com a presença de hiperplasia nodular linfoide e linfonodomegalias abdominal e torácica.

Oito pacientes apresentaram quadro clínico e histológico compatível com doença celíaca (padrão celíaco), que também é considerada fator de estimulação crônica do sistema imunológico10. Não surpreendentemente, a pesquisa de anticorpo IgA antiendomísio foi negativa em todos os pacientes, e o diagnóstico foi estabelecido segundo critérios histológicos para doença celíaca, sendo aqui denominada "padrão celíaco".

No presente estudo, o genótipo 55MM também apresentou relação com maior morbidade, caracterizada pela maior frequência de infecções de vias aéreas e maior taxa de internações, enquanto o alelo 55M apresentou associação com maior mortalidade.

É interessante ressaltar que entre os quatro casos de óbito, apenas um paciente faleceu em decorrência de neoplasia (carcinoma gástrico metastático), e todos apresentavam o genótipo 55MM, tendo sido observada relação negativa entre a ocorrência de óbitos e a presença do alelo 55L. Os demais pacientes apresentaram quadros consuntivos com características clínicas e laboratoriais de processos inflamatórios crônicos sem etiologia conhecida.

Por outro lado, a análise dos alelos demonstrou que a menor morbidade da doença foi associada à presença do alelo 55L, uma vez que os pacientes com este alelo apresentaram menor frequência de infecções, taxa de internações, óbitos, HNL e linfonodomegalia.

Nossos resultados sugerem que o alelo 55L pode desempenhar um papel de proteção contra infecções e linfoproliferação benigna, e que isto poderia ocorrer como consequência da maior atividade enzimática associada a este alelo, resultando em maior eficácia na defesa do organismo contra agentes tóxicos externos ou mesmo àqueles inerentes ao indivíduo. Por outro lado, é possível que em pacientes com ICV, a presença do genótipo 55MM seja preditiva de maior morbidade e mortalidade da doença.

De nosso conhecimento, este constitui o primeiro relato da maior frequência do polimorfismo 55MM e do alelo 55M da PON1 em pacientes com ICV.

 

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Trabalho ganhador do Prêmio Oliveira Lima 2013 da ASBAI.

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