Prezado Editor,

A imunoterapia com alérgenos (ITA) é um dos pilares do tratamento das doenças alérgicas e a única estratégia terapêutica com potencial de cura, promovendo a redução do consumo de medicamentos e controle dos sintomas, mesmo após o término do tratamento¹. A ITA é um dos procedimentos que identificam a Alergia-Imunologia clínica como especialidade.

Embora venha sendo realizada há mais de 100 anos, ainda permanecem dúvidas quanto à sua efetividade e o real benefício fornecido aos pacientes, sobretudo por não especialistas da área.

Em publicação recente em periódico internacional conceituado de nossa especialidade, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) apresentou as "Recomendações para as Boas Práticas da Imunoterapia com Alérgenos: Posicionamento da ASBAI"¹. Neste documento foram estabelecidas as principais recomendações definidas pelas mais destacadas organizações mundiais de Alergia e Imunologia, adaptadas às condições do Brasil, sempre fundamentadas na medicina baseada em evidências e na medicina de precisão¹.

Apesar dessas publicações, ainda se fazia necessária a confirmação, apoiada em evidências, sobre a efetividade e eficácia da ITA subcutânea (ITSC) e sublingual (ITSL), assim como seus eventos adversos, indicações e contraindicações relativas e absolutas em pacientes com rinite alérgica.

Assim, a ASBAI realizou nova revisão sistemática em que se avaliou a eficácia e a segurança da imunoterapia com alérgenos (sublingual e subcutânea) em pacientes (adultos e crianças) com rinite alérgica (ácaros e/ou polens). Como resultado da primeira busca foram selecionados aproximadamente 1.200 artigos segundo as fontes de busca². Destes, apenas 47 foram elegíveis para comporem a revisão sistemática. Vinte e cinco eram estudos duplo-cegos, randômicos e controlados por placebo, sendo avaliados 4.518 pacientes com rinite alérgica perene, com ou sem asma associada, e 3.887 pacientes tratados com placebo. Os dados obtidos foram avaliados pelo Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE) e apresentados como nível de evidência (alto, moderado, baixo e muito baixo), assim como a força de recomendação (fraca ou forte)³.

Foram avaliadas a efetividade e a segurança das ITA subcutânea e sublingual, em crianças e adultos com rinite alérgica (ácaros e polens) (Tabela 1).

Além disso, foram identificados os critérios para indicação e contraindicações para ITA, sublingual ou subcutânea (Tabela 2).

A Tabela 3 reúne os critérios para monitoramento da efetividade e para a descontinuação da ITA.

Com base nos resultados obtidos pela revisão sistemática podemos afirmar que a ITA, subcutânea ou sublingual, é efetiva e segura no tratamento de pacientes (crianças e adultos) com rinite alérgica (sensibilizados a ácaros ou polens), e sempre que indicada deve compor o esquema de tratamento desses pacientes.

Referências

Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação desta carta.

1. Aarestrup FM, Taketomi EA, Galvão CES, Gagete E, Arruda ACNM, Alves GB, et al. Good clinical practice recommendations in allergen immunotherapy: Position paper of the Brazilian Association of Allergy and Immunology - ASBAI. World Allergy Organ J. 2022;15(10):100697. doi: 10.1016/j.waojou.2022.100697.

2. Aarestrup FM, Lira GVAG, Taketomi EA, Gagete E, Rosário Filho NA, Rizzo MC, et al. Brazilian guidelines for allergen immunotherapy in the treatment of allergic rhinitis. Rev Assoc Med Bras (1992). 2023 Jun 2;69(5):e2023D695. doi: 10.1590/1806-9282.2023D695.

3. GRADE Working Group. The grading of recommendations assessment, development and evaluation [Internet]. Disponível em: http://www.gradeworkinggroup.org/. Acessado em: outubro/2022.

• Voltar ao Topo
• Próximo Número