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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Janeiro-Março 2023 - Volume 7  - Número 1


Artigo de Revisão

Risco de exacerbação de asma em adolescentes usuários de dispositivos eletrônicos de liberação de nicotina: uma revisão sistemática e metanálise

Risk of asthma exacerbation in adolescent users of electronic nicotine delivery systems: a systematic review and meta-analysis

Anne Karoline Cardozo da Rocha1; Andresa Emy Miyawaki1; Marina Alves Trombini1; Victória Augusta Cavassim Costa Rosa1; Raul Cesar Santos Prestes1; Thamires Bezerra Costa1; Herberto José Chong-Neto2; Marilyn Urrutia-Pereira3; Dirceu Solé4; Nelson Augusto Rosário-Filho2; Miguel Morita Fernandes-Silva1; Débora Carla Chong-Silva2


1. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curso de Medicina - Curitiba, PR, Brasil
2. Universidade Federal do Paraná, Serviço de Alergia, Imunologia e Pneumologia Pediátrica - Curitiba, PR, Brasil
3. Universidade Federal do Pampa, Curso de Medicina - Uruguaiana, RS, Brasil
4. Universidade Federal de São Paulo, Serviço de Alergia, Imunologia e Reumatologia, Departamento de Pediatria - São Paulo, SP, Brasil


Endereço para correspondência:

Débora Carla Chong-Silva
E-mail: debchong@uol.com.br


Submetido em: 11/12/2022
Aceito em: 20/02/2023

Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação deste artigo

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo investigar a associação entreo o uso dos cigarros eletrônicos e doenças pulmonares em adolescentes. Foi realizada uma revisão sistemática na base de dados PubMed. Os termos Mesh incluídos na busca foram "Electronic Nicotine Delivery Systems" e "Lung Diseases" e sinônimos no título e abstract, com o filtro de idade "child: birth - 18 years", para buscar artigos relacionados ao uso de cigarros eletrônicos e doenças pulmonares em adolescentes. Os critérios de elegibilidade consistiram em: usuários adolescentes, exposição ao cigarro eletrônico e doença pulmonar como desfecho. Os artigos foram selecionados por uma revisão pareada de maneira independente, primeiramente com a leitura dos títulos e resumos, seguida da leitura integral dos artigos selecionados, os quais foram analisados pela ferramenta New Castle-Ottawa quanto sua qualidade, e receberam entre 5 e 7 estrelas. Os dados encontrados foram extraídos para a realização da metanálise. Inicialmente foram encontrados 61 artigos, sendo seis considerados elegíveis, todos transversais e com aplicação de questionários. Na metanálise foi encontrada uma associação significativa entre o uso de cigarro eletrônico e exacerbação de asma (OR ajustado 1,44; IC 95% 1,17-1,76). Não foram encontrados estudos que avaliassem a associação do cigarro eletrônico e outras doenças pulmonares, incluindo EVALI (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), em adolescentes. Na metanálise foi encontrada uma associação significativa entre exacerbações de asma e uso de cigarros eletrônicos em adolescentes com asma crônica e nos previamente hígidos.

Descritores: Asma, adolescente, sistemas eletrônicos de liberação de nicotina, pneumopatias.




Introdução

Popularmente conhecidos como "cigarros eletrônicos" (e-cigs) ou sistema eletrônico de entrega de nicotina (ENDS), os dispositivos eletrônicos de liberação de nicotina vêm ganhando adeptos desde sua introdução nos Estados Unidos, em 20071. Esses dispositivos são constituídos por três componentes: uma bateria, uma bobina de aquecimento e um reservatório contendo o líquido que será aquecido. O e-líquido é, em geral, composto por um solvente (propilenoglicol ou glicerina vegetal), nicotina em doses variadas e, frequentemente, aromatizantes. Por meio do aquecimento, a solução é aerossolizada, sendo então inalada por meio do bocal2.

Existe uma especial preocupação sobre estes dispositivos, pois sua divulgação e consequente popularização pode estar atingindo a população não fumante2. O uso dos e-cigs cresceu substancialmente entre adolescentes e jovens adultos3, devido à ampla divulgação dos dispositivos, especialmente na mídia digital1. Ao contrário do cigarro convencional, o cigarro eletrônico não realiza combustão. Sendo assim, não produz muitos dos produtos tóxicos gerados pelos cigarros tradicionais1. Por isso, apesar dos efeitos dos e-cigs não estarem bem esclarecidos, alguns estudiosos na área de saúde pública4 e apoiadores do produto afirmam que eles seriam uma opção segura ao cigarro comum, além de uma alternativa eficaz aos que tentam parar o tabagismo5.

Estudos revelam, no entanto, que os e-cigs não são isentos de riscos. Efeitos negativos associados aos cigarros eletrônicos foram demonstrados, como o aumento do estresse oxidativo, diminuição da proliferação celular e dano ao DNA em culturas de células expostas aos aerossóis dos cigarros eletrônicos2. Há ainda a preocupação com substâncias cancerígenas conhecidas do tabaco encontradas dentro do vapor da maior parte dos e-cigs. O aquecimento do propilenoglicol também gera aldeídos tóxicos, como formaldeído, acetaldeído e acroleína2,6.

Além disso, o vapor de nicotina dos cigarros eletrônicos atinge as vias aéreas da mesma maneira que o cigarro comum, o que os torna igualmente viciantes. Além da dependência, há preocupação com as ações neurocognitivas da nicotina. Entre adolescentes e adultos jovens, os efeitos observados se relacionam principalmente com a redução dos reflexos, déficits de atenção e raciocínio e transtornos de humor1. Tom Frieden, diretor do Center for Disease Control (CDC), afirma que a adolescência é um período crítico para o desenvolvimento cerebral. A exposição à nicotina em uma idade jovem pode causar danos permanentes ao cérebro, promover o vício e levar ao uso sustentado do tabaco7.

Outro fator alarmante relacionado ao uso do cigarro eletrônico, apontado em estudo realizado em 2017 por Soneji e cols., seria o fato destes dispositivos servirem como motivação para iniciação ao tabagismo. Para os usuários de e-cigs, esta chance seria de 30,4%, contra apenas 7,9% daqueles que nunca usaram o dispositivo. Esses dados refutam a noção de que os cigarros eletrônicos seriam uma opção na cessação do tabagismo, sendo inclusive um fator de risco para o início deste1,8. Somado a isso, um estudo longitudinal, concentrado na avaliação da população adolescente, mostrou que o uso de cigarros eletrônicos por não fumantes também está associado ao aumento do risco destes tornarem-se fumantes do cigarro comum, mesmo após avaliar status demográficos, psicossociais e fatores de risco8.

No Brasil ainda não há dados referentes ao número de jovens usuários de cigarros eletrônicos, mas uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos mostrou que o uso desse tipo de dispositivo tem tido um aumento expressivo entre os adolescentes. Segundo a 2014 National Youth Tobacco Survey, realizada pelo Centro de Controle e Prevenção da FDA, há atualmente 4,6 milhões de estudantes usuários de tabaco, sendo que aproximadamente metade deles (2,4 milhões) reportaram fazer uso de e-cigs9. Ainda segundo a mesma pesquisa, o uso de cigarros eletrônicos por estudantes do ensino médio aumentou aproximadamente 800% de 2011 até 20149.

Quanto ao comércio e a importação de ENDS no Brasil, ambos foram proibidos em 200910 pela Anvisa, devido à ausência de conhecimento sobre a segurança e eficácia do produto. No entanto, é possível adquirir cigarros eletrônicos facilmente em vendas eletrônicas (e-commerce) e até em lojas de rua, com preços a partir de R$ 49,00 para os modelos mais simples1.

O presente estudo busca avaliar a ocorrência de casos de injúria pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos ou vapping (E-cigarette, or Vaping, product use - Associated Lung Injury - EVALI), bem como, de outras doenças pulmonares em adolescentes.

 

Método

Fonte de dados e estratégia de busca

A pesquisa bibliográfica foi realizada na base de dados PubMed, com descritores específicos e sinônimos contidos no título e abstract, de acordo com os termos do Medical Subject Headings (MeSH): "Electronic Nicotine Delivery Systems", "Lung Diseases", "Child", "Pediatrics", "birth - 18 years", e suas variações. A estratégia de busca foi feita objetivando-se o período pré-pandêmico, uma vez que a pandemia do novo coronavírus poderia influenciar nestes achados e mereça ser avaliada separadamente. Foram considerados somente artigos em inglês. Não foram usados filtros de busca em relação à data de artigos publicados até 2020.

Seleção dos estudos

Esta revisão sistemática foi feita de acordo com o checklist Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (Prisma)11. A seleção dos artigos iniciou com a retirada dos artigos em duplicata e, após, dois avaliadores de maneira independente realizaram primeiro a leitura dos títulos e resumos, e, posteriormente, e em comum acordo, a dupla de avaliadores escolheu os artigos que se enquadravam nos critérios de elegibilidade. Nos casos em que não houve consenso, um terceiro avaliador foi consultado para a tomada de decisão. Em seguida, os artigos previamente selecionados foram lidos na íntegra, e por fim, eram eleitos para a revisão. Os critérios de elegibilidade aplicados foram: usuários adolescentes, exposição ao cigarro eletrônico, e, como desfecho, doença pulmonar.

Processo de inclusão e exclusão

Foram incluídos estudos transversais, randomizados e não randomizados, que apresentaram análises de quadros respiratórios em adolescentes que faziam uso de dispositivos eletrônicos de liberação de nicotina (ENDS). Foram excluídos os textos não completos e os estudos relacionados ao diagnóstico de outras doenças que não doenças respiratórias. Os artigos que avaliaram outras consequências que não o desfecho respiratório, bem como, aqueles que tratavam de exposição a outros tipos de tabaco que não os ENDS, também foram excluídos.

Extração dos dados

Conforme recomendações do checklist Prisma11, dois avaliadores fizeram a extração e análise dos dados dos artigos selecionados. Dados sobre a autoria, ano da publicação, nacionalidade, desenho do estudo, tamanho da amostra, sexo, faixa etária e outros dados epidemiológicos foram extraídos dos estudos selecionados.

Avaliação da qualidade

A avaliação metodológica dos estudos selecionados foi feita por dois avaliadores independentes, utilizando a ferramenta New Castle-Ottawa Scale (NOS)12 criada e aprimorada para pontuar estudos não randomizados entre zero e nove estrelas quanto a sua qualidade. A NOS pode ser usada como uma lista de verificação ou escala. Foi desenvolvida usando um processo Delphi e posteriormente testada em revisões sistemáticas e depois aprimorada. Contém oito ítens, categorizados em três dimensões, incluindo seleção, comparabilidade e, dependendo do tipo de estudo, resultado (estudos de coorte) ou exposição (estudos de caso-controle). Para cada item, uma série de opções de resposta é fornecida. Um sistema de estrelas é usado para permitir uma avaliação semiquantitativa da qualidade do estudo, de forma que os estudos recebam uma estrela para cada item, se apresentaram suficiente para o item analisado, com exceção do item relacionado à comparabilidade, que permite a atribuição de duas estrelas12.

 

Resultados

Foram identificados, no total, 257 artigos na busca inicial nas bases de dados, utilizando os descritores "Electronic Nicotine Delivery Systems", "Lung Diseases" e somente artigos na língua inglesa. Após a aplicação do filtro para a faixa etária desejada, obteve-se 74 artigos. Após exclusão de 13 artigos que estavam em duplicata, iniciou-se a triagem dos 61 artigos selecionados (Tabela 1).

 

 

Todos os artigos foram lidos e analisados na íntegra utilizando o método Prisma11, conforme relatado anteriormente, e 55 artigos foram excluídos da análise final por incluírem indivíduos de outras faixas etárias, por avaliação de outras consequências dos e-cigs que não o desfecho respiratório, por incluírem na análise outras formas de tabaco que não e-cigs e, em alguns casos, por não estarem disponíveis na íntegra. Diante disso, 6 artigos foram selecionados nesta fase para a análise de elegibilidade após a aplicação da ferramenta New Castle-Ottawa12, a qual pontua estudos não randomizados entre zero e nove estrelas quanto a sua qualidade (Figura 1).

 


Figura 1
Algoritmo Prisma do processo de seleção dos estudos

 

Os trabalhos selecionados nesta revisão sistemática receberam entre cinco e sete estrelas, todos transversais e com metodologia de aplicação de questionários, conforme mostrado na Tabela 2.

 

 

Um único artigo recebeu cinco estrelas, Bayly (2019)13, e, por esse motivo, não foi incluído na metanálise. O estudo de Schweitzer (2017)14 recebeu seis estrelas, e os demais - Cho (2016)15, Choi (2016)16, Kim (2017)17 e McConnell (2017)18, receberam sete estrelas.

Os dados encontrados nos 5 artigos que compuseram a amostra final foram extraídos para uma tabela, para posterior realização de uma revisão sistemática e metanálise. A metanálise foi feita a partir da análise de dados na forma de odds ratio (OR).

A população informada na maioria dos estudos compreende os adolescentes, de 11 até 18 anos, com a mesma proporção entre o sexo feminino e masculino. Dois dos estudos foram realizados na Coreia do Sul, e o restante nos Estados Unidos, nos estados da Flórida e da Califórnia. Quatro deles avaliaram adolescentes com diagnóstico prévio de asma, enquanto os demais analisaram pessoas saudáveis. Apenas dois questionaram sobre o uso prévio de tabaco, além disso, foram discutidas questões sociodemográficas, como etnia, prática de exercício físicos, nível educacional dos pais, nível socioeconômico e região de residência, em três dos artigos.

O desfecho encontrado nos seis estudos foi a exacerbação da asma em pessoas previamente diagnosticadas com asma, e sintomas de asma em previamente saudáveis.

Na metanálise foi encontrada uma associação significativa entre o uso de cigarro eletrônico e exacerbação de asma (OR ajustado 1,44; IC 95% 1,17-1,76). Cinco dos estudos apresentam relevância estatística, e todos mostraram que o uso do cigarro eletrônico pode exacerbar a asma. Apenas um estudo, de McConnell e cols., ultrapassou a reta vertical no Forest Plot, diminuindo sua relevância estatística para a pesquisa em questão (Figura 2).

 


Figura 2
Metanálise das exacerbações de asma e uso dos ENDS (Electronic Nicotine Delivery Systems)

 

Discussão

O número de adeptos ao uso de cigarros eletrônicos tem crescido assustadoramente, em particular, entre os jovens do mundo todo1. Nos Estados Unidos, o uso destes dispositivos vem sendo abordado como um grave problema de saúde pública nos últimos anos1,3. Apesar da ausência de dados epidemiológicos publicados no Brasil e, mesmo diante da proibição da divulgação e comercialização livre destes produtos, é inegável a percepção de que o uso dos vappings vem crescendo entre os jovens brasileiros10,19,20.

Uma das explicações aventadas para o crescimento desta adesão é a noção equivocada de que esses dispositivos são inofensivos. Além disso, os cigarros eletrônicos têm se tornado sinônimo de aceitação social e ostentação entre adolescentes e adultos jovens9,20.

Apesar dos efeitos dos dispositivos eletrônicos de fumar não estarem bem esclarecidos, sabe-se que é um importante fator de risco para doenças cardiovasculares (DCV) e doenças pulmonares21. Além da dependência química, há ainda a preocupação com as ações deletérias neurocognitivas da nicotina, confirmada produção de substâncias cancerígenas e efeitos sobre o endotélio vascular e consequente impacto sobre as doenças cardiovasculares2,6,7,21.

Comparado com o cigarro industrial, o vapor do cigarro eletrônico atinge da mesma forma as vias aéreas, sendo igualmente viciante2,6,7.

Em relação à ação agressora local ao epitélio respiratório, muitos estudos apontam efeitos inflamatórios específicos e confirmam o prejuízo da resposta imune inata nos pulmões. A exposição aos aromatizantes ENDS resulta na ativação anormal das células epiteliais pulmonares e β-defensinas, disfunção da atividade fagocítica do macrófago, aumento dos níveis de mucina (MUC5AC) e ativação anormal da resposta neutrofílica (NETose)22,23. Os aromatizantes de mentol desregulam a resposta imune inata e podem estar associados a alergias e asma por meio da ativação do potencial receptor transitório da anquirina 1 (TRAP1)23. Um potencial efeito sobre a microbiota respiratória dos usuários dos ENDS também tem sido estudada23.

Mais recentemente, estudos mostrando a associação positiva entre uso dos ENDS e infecções respiratórias virais ganharam destaque. Usuários de cigarros apresentaram consistente alteração na resposta antiviral, com queda na produção de citocinas de defesa (IFNγ, IL6 e IL12p40) quando expostos ao vírus Influenza atenuado, bem como, uma falha no aumento da IgA anti-Influenza nos fumantes, diferindo significativamente do grupo não fumante24.

Esta pesquisa apontou um achado relevante, o risco aumentado de exacerbações de asma em usuários de e-cigs, entre asmáticos crônicos, mas também em adolescentes hígidos.

A asma é uma das principais doenças crônicas da infância e adolescência, com crescente prevalência, elevado número de internações e alto custo social25. É um problema mundial de saúde que acomete cerca de 300 milhões de indivíduos. Destes, 20 milhões pertencem ao Brasil, representando uma prevalência de 10% da população. Esse índice aumenta quando se trata de crianças em idade escolar e adolescentes, alcançando até 20% de prevalência25. O impacto negativo da exposição à fumaça do cigarro convencional nos sintomas da asma já foi comprovado, mostrando que crianças e adolescentes asmáticos expostos ao tabagismo passivo têm asma de gravidade moderada, maior necessidade do uso de corticosteroides inalatórios e maior frequência de sintomas diurnos quando comparados às crianças livres desta exposição26.

Não é difícil imaginar que, uma vez a asma sendo uma doença que consiste na inflamação das vias aéreas, a exposição ambiental a alérgenos e irritantes como a fumaça do cigarro gere hiper-resposividade, com redução do fluxo ventilatório e consequente exacerbação da doença25,26. O presente estudo mostrou que o vapor aquecido, bem como os produtos gerados pelos e-cigs apresentam a mesma capacidade de desencadear a temida exacerbação da asma.

Avaliando o efeito local imediato, estudo mostrou um aumento da resistência total (R5Hz) e das grandes vias aéreas (R20Hz), medidas por meio de oscilometria de impulso (IOS), após o uso por 5 minutos de um cigarro eletrônico, efeito igualmente descrito para o uso de cigarros convencionais, sugerindo uma potencial ação constritora27. O mesmo estudo apontou um aumento significativo do estresse oxidativo do grupo que usou e-cigs, comprovado pela redução da fração de óxido nítrico exalado (FENO)27.

A EVALI - Injúria pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos (E-cigarette, or Vaping, product use - Associated Lung Injury) não foi encontrada na revisão sistemática realizada quando restringimos a idade para a faixa dos adolescentes.

Mais recentemente, estudos mostrando a associação positiva do uso dos ENDS e testes positivos para a COVID-19, apontou que os jovens usuários de cigarros eletrônicos isoladamente apresentaram 5 vezes mais chance (95% IC: 1,82 e 13,96) de um teste positivo, e quando esse uso é conjunto, de e-cigs e cigarros convencionais, esta chance é ainda maior, de quase 7 vezes (95% IC: 1,98 e 24, 55), quando comparado aos jovens não fumantes28.

Os resultados desta revisão e metanálise apontam para um malefício real do uso dos e-cigs em adolescentes.

Medidas preventivas que assegurem educação, informação e planos de ação no combate ao uso dos cigarros eletrônicos devem ser adotadas por educadores, profissionais de saúde e gestores, visando interromper a crescente adesão destes dispositivos pelos nossos jovens.

Pediatras e demais profissionais que atendem adolescentes na sua prática diária precisam estar atentos, particularmente na população de asmáticos, desde a investigação do uso dos e-cigs durante a anamnese até a orientação firme e precisa sobre os danos que esta prática pode acarretar.

 

Referências

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