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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Janeiro-Março 2020 - Volume 4  - Número 1


CARTA AO EDITOR

Recomendações da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia para orientação dos pacientes com Imunodeficiências durante a pandemia COVID-19

Recommendations of the Brazilian Association of Allergy and Immunology to guide patients with Immunodeficiencies during the COVID-19 pandemic

Ekaterini Goudouris1; Almerinda Maria Rego Silva2; Anete Sevciovic Grumach3; Antonio Condino Neto4; Carolina Cardoso de Mello Prando5; Carolina Sanchez Aranda6; Cristina Maria Kokron7; Fernanda Pinto Mariz8; Gesmar Rodrigues Silva Segundo9; Mayra de Barros Dorna10; Wilma Carvalho Neves Forte11; Helena Fleck Velasco12


DOI: 10.5935/2526-5393.20200014

1. UFRJ
2. UFPE
3. FM do ABC
4. USP
5. HPP
6. UNIFESP
7. USP
8. UFRJ
9. UFU
10. USP
11. Santa Casa de São Paulo
12. Especialista pela ASBAI

Departamento Científico de Imunodeficiências BRAGID - Brazilian Group for Immunodeficiency


Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação desta carta.




A grande maioria das pessoas (80%) que têm se infectado pelo novo coronavírus apresenta quadros sem gravidade, de uma gripe comum, e não demanda cuidados especiais. À doença provocada por esse coronavírus chamamos COVID-19. Entretanto, aproximadamente 20% dos indivíduos têm apresentado quadros respiratórios que necessitam de assistência médica, sendo 5% delas, quadros mais graves (Síndrome Respiratória Aguda Grave - SARS-CoV-2), necessitando de internação em unidade de terapia intensiva e uso de ventilação mecânica precoce. Ainda assim, a maior parte dos pacientes graves, sobrevive. A taxa de mortalidade total está em torno de 2,3%, mas provavelmente é superestimada, pois casos oligossintomáticos não estão computados. As pessoas idosas e/ou que apresentam comorbidades são as que têm maior risco de apresentar quadros respiratórios graves e maior risco de morte. São doenças que implicam em maior risco: cardiopatias, diabetes, doenças respiratórias crônicas e doenças, ou uso de medicamentos que afetam o sistema imune. Aparentemente, as crianças se infectam tanto quanto os adultos e idosos, mas têm apresentado quadros clínicos de menor gravidade.

Indivíduos com diagnóstico de alguma imunodeficiência primária ou erro inato da imunidade (EII), dependendo do tipo de defeito do sistema imune, podem apresentar maior risco que as demais pessoas para se infectar pelo coronavírus e de ter a doença respiratória grave por esse vírus.

Pacientes com imunodeficiência combinada grave são, a princípio, os de maior risco, tanto antes, como após transplante de células tronco hematopoiéticas. Pacientes com EII que foram recentemente transplantados e/ou aqueles que usam medicamentos imunossupressores para o tratamento de manifestações de autoimunidade são considerados de risco para quadros mais graves de COVID-19.

É preciso enfatizar que os pacientes que apresentam defeitos na produção de anticorpos, os EII mais comuns, a princípio, não apresentam maior risco de infecção pelo coronavírus, nem de ter um quadro respiratório grave. Porém, apresentam maior risco de ter uma complicação bacteriana após a infecção viral, como acontece após muitas outras infecções virais.

Pacientes que recebem imunoglobulina mensalmente não estão mais protegidos da COVID-19 que os outros indivíduos, pois os anticorpos que recebem passivamente foram coletados do plasma dos doadores muito antes do início dessa pandemia. Por isso, nos produtos comerciais em uso no presente momento, ainda não há anticorpos específicos para esse vírus. Também por conta disso, não está indicado, até o momento, usar imunoglobulina humana com objetivo de transferir anticorpos para o tratamento de quadros graves de COVID-19 na população em geral. Tem-se procurado isolar anticorpos específicos para o coronavírus de pessoas que se recuperaram dessa infecção, mas isso ainda não está em uso.

Não está indicado iniciar a aplicação de imunoglobulina humana em pacientes que tenham o diagnóstico de um EII para o qual não haja indicação de uso de reposição de imunoglobulina (como é o caso da deficiência seletiva de IgA) com o objetivo de proteger ou tratar a infecção pelo coronavírus.

Como acontece para a maioria dos vírus, não há tratamento específico para o coronavírus. Muitos medicamentos que são usados no tratamento de outras infecções virais estão sendo testados na COVID-19, mas ainda sem eficácia comprovada: interferon alfa2B, remdesivir, antivirais usados para o vírus da AIDS, oseltamivir e favipiravir (usados para vírus Influenza). Há estudos sugerindo possível eficácia da cloroquina/hidroxicloroquina, no entanto, os resultados obtidos até o momento não justificam seu uso em larga escala para tratar, e muito menos para prevenir, a COVID-19. Há estudos em andamento, e também ainda sem resultados, sobre o uso de um imunobiológico anti-IL6 no tratamento do quadro respiratório grave.

Ressaltamos que não há qualquer evidência de que vitamina C, vitamina D, medicamentos fitoterápicos ou homeopáticos tenham efeito na prevenção ou no tratamento do coronavírus.

Ainda não há dados na literatura sobre a evolução dos quadros respiratórios em pacientes com os diversos EII. Portanto, até que tenhamos estudos específicos, as medidas que devem ser recomendadas aos pacientes são as descritas a seguir.

 Respeitar a determinação de isolamento social.

 Os cuidados de higiene e isolamento incluem todos que moram na mesma casa e/ou os cuidadores dos pacientes.

 Não suspender qualquer tratamento em uso sem conversar com seu médico.

 Não usar qualquer medicamento novo sem conversar com seu médico.

 Manter as medidas de higiene que estão sendo amplamente divulgadas na mídia e por nós, com especial atenção à lavagem frequente e correta das mãos.

 Não procurar serviços de emergência, exceto em caso de febre alta e dificuldade para respirar.

 Não há indicação, até o presente momento, de coleta de material para isolamento de coronavírus, exceto se houver febre e sintomas respiratórios.

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