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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Outubro-Dezembro 2023 - Volume 7  - Número 4


CARTA AO EDITOR

Parabenos para os alergistas

Parabens for allergists

Nelson Rosário Filho


Professor Titular de Pediatria, UFPR / Pesquisador do CNPq, Presidente vitalício da ASBAI


Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação desta carta.




O que são parabenos?

Parabenos são ésteres derivados do ácido para-hidroxibenzoico, usados como conservantes em produtos, farmacêuticos, cosméticos, shampoos, alimentícios, de limpeza, e de higiene pessoal. Suas propriedades fungicidas e bactericidas oferecem proteção contra microrganismos que podem prejudicar a integridade do produto. São insípidos, inodoros, incolores e pela boa disponibilidade, eficácia e baixo custo podem ser combinados a outros tipos de conservantes no mesmo produto1.

Os parabenos disponíveis comercialmente incluem metilparabeno (MP), etilparabeno (EtP), propilparabeno (PrP), butilparabeno (BuP) e benzilparabeno (BeP). Exposição humana a parabenos ocorre pelo contato tópico ou ingestão de produtos contendo parabenos2,3.

Devido a sua solubilidade em água, é o ingrediente mais frequente em cosméticos, e pode apresentar efeito cumulativo pela exposição contínua da derme4. A exposição humana aos parabenos leva à ampla distribuição no organismo, detectada em amostras de várias origens, incluindo urina, soro, leite materno, tecido placentário e líquido amniótico5-7.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), estabelece as concentrações máximas autorizadas de cada parabeno em produtos cosméticos, de higiene pessoal e perfumes8.

Balbani, Stelzer e Mantovani selecionaram 35 medicamentos comercializados no Brasil, de venda livre ou sob prescrição médica, incluindo vários anti-histamínicos em apresentação líquida para verificar informações na bula sobre conservantes, corantes, adoçantes e aromatizantes. Os conservantes mais encontrados nos medicamentos foram metilparabeno e propilparabeno (43% e 35,6% respectivamente)9.

 

Segurança e efeitos de parabenos no organismo

Embora tenham sido classificados como "compostos geralmente seguros" pela FDA (Food and Drug Administration- EUA) e pela Agência Europeia de Medicamentos- EMA10, a segurança dos parabenos vem sendo contestada nas últimas décadas, principalmente por produzirem distúrbios endocrinológicos, alterando a atividade de hormônios endógenos, bem como a síntese, transporte e metabolismo hormonal, e exibindo atividade fraca estrogênica e antiandrogênica11. Estudos epidemiológicos demonstraram associações entre parabenos urinários e efeitos adversos à saúde, incluindo toxicidade em reprodução humana, estresse oxidativo (que pode contribuir para a sensibilização de contato), modulação imunológica e até câncer de mama11-13.

Parabenos urinários, incluindo metilparabeno (MeP), etilparabeno (EtP), propilparabeno (PrP), butilparabeno (BuP) e benzilparabeno (BeP) foram medidos entre 436 crianças em uma coorte de nascimento usando cromatografia gasosa com espectrometria de massa. O objetivo era avaliar associação entre exposições a parabenos com idade e escore z de peso, altura, peso para altura e índice de massa corporal. Associações significativas foram apenas observadas em meninos, sugerindo que a exposição aos parabenos pode prejudicar o crescimento em meninos de 3 anos de idade. Mais estudos prospectivos são necessários para entender os mecanismos toxicológicos de exposição a parabenos e risco potencial para crianças14.

 

Relação entre parabenos e doenças alérgicas

Reações aos parabenos são pouco frequentes, geralmente irrelevantes e as mais identificadas são as dermatites de contato alérgicas pelo uso tópico de cosméticos ou medicamentos que contêm o produto. Entre os conservantes em uso, parabenos são os preservativos menos alergênicos1.

A exposição a parabenos foi positivamente associada à sensibilização a aeroalérgenos, um importante fator de risco para o desenvolvimento, morbidade e gravidade da asma e doenças alérgicas15-17.

Reações anafiláticas aos parabenos são incomuns, mas foram descritas urticária e angioedema em indivíduos com intolerância ao ácido acetil-salicílico18.

A relação entre exposição a parabenos e asma foi examinada em estudo transversal em crianças de 6 a 18 anos, e os resultados obtidos mostraram chances significativamente maiores de sensibilização por aeroalérgeno com aumento de concentrações urinárias de propil e butil parabenos19.

Atualmente, ainda não está claro se os parabenos induzem ou agravam alergias, além de alergia de contato. Estudo que examinou a relação entre a exposição aos parabenos e a prevalência de doenças alérgicas em crianças japonesas mostrou que a prevalência de dermatite atópica foi significativamente maior em crianças com altas concentrações urinárias de parabenos, do que naquelas com baixas concentrações20.

A associação entre parabenos e morbidade da asma foi examinada entre crianças com asma e com prevalência de asma entre 4.023 crianças na população geral dos EUA que participou da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (National Health and Nutrition Examination Survey 2005-2014). Concentrações urinárias de biomarcadores de parabeno [butil parabeno, etil parabeno, metil parabeno (MP) e propil parabeno (PP)] foram analisadas em relação a crises de asma e atendimentos de emergência entre crianças com asma21.

Entre as crianças com asma, não se observou associações entre qualquer um dos parabenos e relatos de crises de asma ou visitas ao pronto-socorro. Entretanto, a exposição a MP e PP foi associada a uma maior probabilidade de prevalência de relatar visitas de emergência por asma nos 12 meses anteriores entre meninos com asma, apesar de meninos terem concentrações de biomarcadores MP e PP mais baixos. Outros estudos já haviam observado maior frequência de sensibilização a aeroalérgenos e alimentos em meninos21.

O dimorfismo sexual também foi relatado para asma pediátrica e para consultas de emergência, com meninos apresentando maior prevalência de asma e visitas de emergência para exacerbações de asma, o que seria um viés na interpretação dessa associação por ação de parabenos22,23.

Não se identificou associação consistente entre as concentrações de triclosan ou parabeno pré-natal e no início da vida com asma infantil, sibilos recorrentes ou sensibilização alérgica, mas novamente indivíduos do sexo masculino geralmente correm um risco maior do que indivíduos do sexo feminino24,25.

Triclosan urinário detectável e metil parabeno concentrações de propil parabeno eram comuns e foram associados com chances aumentadas de sensibilização a aeroalérgenos e risco de asma em uma amostra representativa de crianças de 6 a 18 anos. Estes produtos químicos não são persistentes no corpo humano, portanto as concentrações de urina são reflexo da exposição em um único momento25.

Esses estudos de relação de sensibilização alérgica e asma são transversais, e essas associações não determinam causalidade. Dermatite atópica foi excluída de alguns estudos. Concentrações urinárias de parabenos variam ao longo do tempo e uma determinação isolada pode resultar em erro na interpretação. Em geral a presença de asma e eczema foi baseada em informações dos pais e em questionário padronizado e outras exposições ambientais, além de que os parabenos possam ter interferido nas observações descritas26,27.

A história dos conservantes remonta à década de 1930 e, ironicamente, os parabenos, que a indústria procurou substituir por alternativas "mais seguras", ainda são os biocidas mais usados em cosméticos e parecem ser muito menos sensibilizantes do que a maioria dos agentes mais novos. A frequência de sensibilidade a esse biocida amplamente utilizado permaneceu baixa e notavelmente estável por muitas décadas, apesar do uso extensivo e da expansão progressiva da sua utilização em todo o mundo26,27.

 

Conclusão

Parabenos são conservantes usados em alimentos, medicamentos e cosméticos, considerados seguros por agências regulatórias nacional e de outros países. Causam dermatite de contato alérgica, e outras reações são raras a despeito do uso em crescimento. Mais estudos são necessários para estabelecer alguma associação entre parabenos e asma/dermatite atópica, bem como a distúrbios endocrinológicos e outros.

 

Agradecimento

À empresa Sanofi pelo apoio e patrocínio no preparo do texto.

 

Referências

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