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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Janeiro-Março 2023 - Volume 7  - Número 1


CARTA AO EDITOR

Teste de proficiência para o teste por puntura: uma certificação de qualidade premente do especialista da ASBAI

Proficiency testing for the skin prick test: the pressing need for quality certification among ASBAI specialists

Herberto José Chong-Neto


Professor Associado II de Pediatria, Universidade Federal do Paraná. Coordenador do Departamento Científico de Provas Diagnósticas - ASBAI


Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação desta carta




Os testes cutâneos alérgicos por puntura (TCA) são difíceis de padronizar, e o desempenho do TCA depende principalmente da experiência do médico. O TCA é um importante procedimento diagnóstico em alergia clínica, mas a documentação da qualidade muitas vezes não é realizada. Até agora, o efeito de vários fatores, como tipos de dispositivos, forma, variedade de tipo de material e força aplicada no desempenho do TCA não foram extensivamente investigados.

Com o objetivo de investigar o efeito de vários fatores, incluindo tipo ou forma de dispositivos, tipo de material e força aplicada, sobre o desempenho do TCA, foram avaliados quatro dispositivos com diferentes formas e materiais aplicados em 12 indivíduos em 3 diferentes forças (30, 45 e 60 g). Os resultados foram comparados com o método padrão de puntura usando uma lanceta ALK por um clínico experiente. Um total de 480 picadas foi realizado em 12 indivíduos. Os tamanhos e sensibilidades das pápulas de todos os dispositivos aumentaram com maiores forças aplicadas. As lancetas mais finas com uma ponta longa e afiada tiveram sensibilidades analíticas relativamente mais altas e forneceu 100% de sensibilidade em forças aplicadas de acima de 45 g. As pontuações de dor de todos os dispositivos em forças aplicadas de 30 a 60 g variaram de 1,00 a 1,81 com incidência mínima de sangramento (0%-4,17%), enquanto o escore de dor pelo método padrão pela lanceta ALK foi de 2,08 com incidências muito maiores de sangramento em 27,1%. O tipo/forma do dispositivo e a força aplicada são os fatores essenciais que afetam o desempenho do TCA. O resultado do estudo pode abrir caminho para um desempenho mais alto e TCA padronizado1.

Em um estudo em Curitiba, com o objetivo de comparar os resultados obtidos com agulha e Multi-Test II® em testes cutâneos por puntura com diferentes concentrações de histamina e de extrato de Dermatophagoides pteronyssinus (Dp) e a dor relatada em cada teste, foram incluídas 104 crianças com idade entre 6 e 15 anos, com diagnóstico de asma e/ou rinite e/ou dermatite atópica e teste cutâneo alérgico positivo para Dp. Foram realizados testes com agulha hipodérmica descartável BD Precision Glide® 13 x 0,3 e com dispositivo Multi-test II® com histamina 10 mg/mL e 1 mg/mL, Dermatophagoides pteronyssinus 5000 PNU/mL e 10000 PNU/mL e solução salina. Avaliação da dor foi obtida após cada teste pela escala de faces de dor de Wong-Baker. A sensibilidade do teste cutâneo alérgico para os dois dispositivos foi 100% nas concentrações de histamina 10 mg/mL. Com histamina 1 mg/mL o Multi-test II® apresentou maior valor de sensibilidade (S = 86,5%) que a agulha (S = 56,7%). Alto nível de concordância entre os dois dispositivos foi observada com extrato de Dp na concentração de 10000 PNU/mL. Com a concentração de 5000 PNU/mL, o nível de concordância entre os testes foi 69,1% (Kappa = 0,2). A dor foi relatada por 65 (62,5%) crianças com Multi-Test II®, e 48 (46,2%) com agulha (p = 0,01). Houve alta sensibilidade para os dispositivos utilizados. Houve diferenças entre os tamanhos das pápulas nos testes cutâneos alérgicos com os dois dispositivos, porém resultados falso-positivos foram pouco observados2.

Foi descrito um sistema de proficiência para avaliar os funcionários em relação ao recomendado internacionalmente, a reprodutibilidade em termos de coeficiente de variação (CV < 40%) e a linearidade (coeficiente de regressão > 0,85) com base em testes cegos de histamina oculta usando histamina 3, 10, 30 e 100 mg/mL. Quatorze enfermeiros especializados em alergia participaram do teste de proficiência. Mais de 95% dos enfermeiros, geraram coeficiente de variação inferior a 40% e, para cerca de 35% dos testadores, o CV estava abaixo de 20% com base na área da pápula. Em relação à linearidade (coeficiente de regressão), apenas dois enfermeiros produziram testes com valor inferior a 0,85, sendo que 79% dos testadores demonstraram um coeficiente de regressão > 0,95. Dependendo da suavidade do procedimento de puntura, a variabilidade entre enfermeiras na área da pápula foi maior que duas vezes, correspondendo a uma duplicação de 10 vezes na concentração de histamina. Isso nunca teria sido detectado sem o uso de um sistema de teste de proficiência. O teste de histamina descrito fornece um sistema objetivo para a avaliação da qualidade básica do teste cutâneo e padrões de avaliação especialmente para documentação em estudos científicos.

Diante da ausência de padronização dos testes cutâneos alérgicos por puntura, dos resultados divergentes quanto ao dispositivo e dos examinadores, da não documentação de avaliações padronizadas e de reprodutibilidade dos resultados no treinamento da realização dos procedimentos entre os residentes e pós-graduandos dos centros formadores, e do fato que a realização e interpretação do TCA no Brasil é um ato médico, há necessidade premente de a ASBAI realizar o teste de avaliação prática no TCA por puntura, com o objetivo de salvaguardar a saúde dos pacientes alérgicos e garantir ao profissional a qualidade do serviço prestado, comprovado pela proficiência do especialista.

 

Referências

1. Chiiaranairungroj M, Chatchatee P, Srituravanich W. The effect of applied force and device design on skin prick test performance. Ann Allergy Asthma Immunol. 2023;130:312-6.

2. Lopes LK, Rosário CS, Riedi CA, Chong-Neto HJ, Rosário NA. Dispositivos únicos ou múltiplos para testes cutâneos alérgicos em crianças. Arq Asma Alerg Immunol. 2018;2:116-22.

3. Malling HJ, Allesen-Holm P, Karved LS, Poulsen LK. Proficiency testing of skin prick testers as part of a quality assurance system. Clin Transl Allergy. 2016;6:36.

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