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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Março-Abril 2015 - Volume 3  - Número 2


CARTA AO EDITOR

Reatividade cutânea em idosos

Cutaneous reactivity in the elderly

Lilian Dias dos Santos Alves; Zamir Calamita


DOI: 10.5935/2318-5015.20150014




Prezada Editora,

Os testes cutâneos in vivo aplicados na prática clínica da especialidade de alergia, como o teste de punctura ou prick-test, possibilitam a pesquisa de possíveis alérgenos desencadeantes do quadro investigado. Eles podem ser utilizados no diagnóstico de alergia que envolva resposta de hipersensibilidade imediata, IgE mediada (tipo I), em condiçoes clínicas como rinite, asma, alergias alimentares e a picada de insetos.

Pelo fato dos testes in vivo dependerem do grau de reatividade da pele, é crucial o entendimento dos possíveis efeitos do avançar da idade na reatividade cutânea. Parece que nos extremos da vida, em particular no idoso, haveria uma diminuiçao dessa reatividade, entretanto poucas pesquisas existem a respeito do assunto, sendo um aspecto interessante a se verificar na populaçao idosa1.

Realizamos um estudo com 100 pacientes idosos (com 60 anos ou mais) acompanhados por médicos da especialidade de geriatria do Ambulatório de Especialidades "Governador Mário Covas" da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), em Marília, SP, entre julho de 2012 e abril de 2013. Nestes pacientes foi realizado o teste de punctura com histamina e com soro fisiológico, utilizando-se da técnica do prick test de acordo com as recomendaçoes do Practice Parameters for Allergy Diagnostic Testing elaborado pela American Academy of Allergy, Asthma & Immunology (AAAAI) e o American College of Allergy, Asthma and Immunology (ACAAI). O critério de exclusao foi o uso de anti-histamínicos (até 7 dias antes) ou antidepressivos tricíclicos (até 30 dias antes).

A amostra foi obtida por conveniência e os pacientes foram selecionados de acordo com a ordem de chegada, em sequência, independente do sexo e idade.

A leitura do prick test foi realizada por duas pessoas e considerada a média do diâmetro das duas leituras.

Para análise comparativa foi realizado o mesmo procedimento num grupo controle de 100 adultos com menos de 60 anos de idade, no período de 15 a 25 de abril de 2013, que incluiu alunos e funcionários da FAMEMA. Todos os participantes aceitaram participar da pesquisa após as orientaçoes sobre a mesma e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

No grupo controle, os indivíduos apresentaram idades entre 19 e 59 anos (média 34,9+11,5 anos) e 78% eram do gênero feminino. No grupo dos idosos, 84% dos pacientes eram do gênero feminino, e 17% eram do sexo masculino, com idades entre 60 e 92 anos (média 74,8+8,5 anos). A média dos resultados dos testes de punctura à histamina no grupo controle foi de 5,9 mm+2,3 mm. A média dos resultados dos testes de punctura à histamina no grupo de idosos foi de 5,65 mm+1,09 mm. Nao houve diferença significante entre os resultados nos dois grupos analisados para um p < 0,05.

De acordo com Motta et al.2 , existiria uma variaçao dos resultados do prick test associada a idade, devido as alteraçoes de IgE durante o processo do envelhecimento. Em crianças, a reatividade cutânea é 60% menor quando comparada com a de um adulto, com progressivo declínio após os 50 anos, e aos 71 anos de idade apresenta resultado de cerca de 73% de um indivíduo adolescente.

Observou-se que, para o teste de punctura à histamina, os resultados encontrados nos dois grupos foram semelhantes. Neste caso, a reatividade ocorreu independente dos níveis de IgE pela açao direta da histamina em seus receptores, nao havendo, portanto, a participaçao da IgE na degranulaçao dos mastócitos.

Há de se ressaltar que neste trabalho os testes foram aplicados em uma faixa etária nao tao extrema da vida, o que pode ter motivado o nao encontro da suposta diminuiçao da resposta cutânea, de acordo com o observado na literatura.

Lilian Dias dos Santos Alves, RN, MSc
Zamir Calamita, MD, PhD

Faculdade de Medicina de Marília FAMEMA, Marília, SP.

Nao foram declarados conflitos de interesse associados à publicaçao desta carta.

 

REFERENCIAS

1. Bernstein IL, Li JT, Bernstein DI, Hamilton R, Spector SL, Tan R, et al. Allergic diagnostic testing: an updated practice parameter. Ann Allergy Asthma Immunol. 2008;100:S1-148.

2. Motta AA, Kalil J, Barros MT. Testes cutâneos. Rev Bras Alerg Imunopatol. 2005;28(2):73-83.

 


Resposta da Editora

Parabenizo aos Drs. Alves e Calamita pelo estudo, em que os autores mostraram que a reatividade à histamina em pacientes acima de 60 anos foi comparável à de indivíduos com menos de 60 anos. De forma interessante, um estudo coreano que envolveu 854 indivíduos com 65 anos de idade ou mais, mostrou que nao houve diminuiçao com a idade da reatividade cutânea no teste de puntura, induzida por dois alérgenos principais entre pacientes coreanos, Dermatophagoides pteronyssinus e D. farinae. Ao contrário dos achados de Alves e Calamita, os autores observaram reatividade reduzida à histamina com a idade, mas apenas em indivíduos do gênero feminino. De qualquer modo, os estudos de Alves e Calamita, e de Song e cols., fornecem suporte para a realizaçao de testes cutâneos de hipersensibilidade imediata na investigaçao de pacientes idosos com doenças possivelmente alérgicas, tendo sido demonstrado que os mesmos apresentam habilidade de fazer uma resposta apropriada à histamina e de montar uma reaçao de hipersensibilidade imediata local adequada induzida por alérgeno.

L. Karla Arruda, MD, PhD

Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto, Universidade de Sao Paulo, Ribeirao Preto, SP

 

REFERENCIAS

1. Song WJ, Lee SM, Kim MH, Kim SH, Kim KW, Cho SH, et al. Histamine and allergen skin reactivity in the elderly population: results from the Korean Longitudinal Study on Health and Aging. Ann Allergy Asthma Immunol. 2011;107(4):344-52.

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