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Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Abril-Junho 2024 - Volume 8  - Número 2


Editorial

Evolução do diagnóstico e tratamento da urticária

Evolution of the diagnosis and management of urticaria

Rosana Câmara Agondi


Serviço de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas da FMUSP




Nos últimos anos, houve uma evolução muito grande no conhecimento da urticária crônica, tanto na sua fisiopatologia ou patogênese quanto no seu tratamento.

Não muito tempo atrás, o principal subtipo de urticária era denominado de urticária crônica idiopática (UCI); alguns a definiam como doença alérgica, e outros, como doença psiquiátrica. A autoimunidade sempre rondou a fisiopatologia da urticária crônica. Conforme nossa experiência prática com a utilização do omalizumabe foi crescendo, baseada inicialmente em estudos sobre relato de casos e, posteriormente, nos ensaios clínicos e estudos de vida real, houve um "boom" de artigos sobre fisiopatologia, patogênese e tratamento da urticária. Atualmente, a UCI passou a ser denominada de urticária crônica espontânea (UCE), sendo que a autoimunidade é o principal mecanismo patogênico envolvido.

Os dois mecanismos autoimunes propostos para UCE são o denominado autoimune, onde se observam autoanticorpos IgG antirreceptor de alta afinidade da IgE ou IgG anti-IgE, que envolve uma reação de hipersensibilidade tipo IIb; e o denomimado autoalérgico, onde o autoanticorpo é uma IgE reconhecendo autoantígenos, como tireoperoxidade, e envolve uma reação de hipersensibilidade tipo I. A célula central é o mastócito, e o principal mediador envolvido na UCE, a histamina.

Com toda essa evolução em um espaço de tempo curto, muitas mudanças ocorreram no algoritmo de tratamento da UCE. A última diretriz internacional recomenda um algoritmo de tratamento com apenas três níveis, sendo observada uma resposta eficaz e segura em mais de 80% dos pacientes.

Entretanto, queremos mais! Quanto maior o controle da doença e melhor a qualidade de vida do paciente com UCE, mais ávidos ficamos para obter um melhor conhecimento sobre o prognóstico da doença.

Nesta edição, Pereira e cols. analisaram um potencial biomarcador, já sugerido pela literatura, para atividade da doença e resposta ao tratamento. A presença de basopenia implica em uma maior atividade da doença, um mecanismo autoimune tipo IIb e resposta mais tardia ao omalizumabe. Os autores avaliaram, em um estudo retrospectivo, os níveis de basófilos periféricos, o controle da doença e a resposta ao omalizumabe4.

Por outro lado, ainda temos muitos desafios para a investigação clínica e o tratamento da urticária crônica induzida (UCInd). As UCInds incluem nove subtipos e, diferentemente da UCE, a maioria destes subtipos pode evoluir com episódios de anafilaxia. Os gatilhos ou desencadeantes são reconhecidos, porém não para a maioria dos pacientes. Por exemplo, um paciente que desenvolva urticas e/ou angioedema quando exposto a um dia quente de sol precisa ter sua história detalhada e, provavelmente, dois ou mais testes de provocação serão necessários para a confirmação diagnóstica. Azizi e cols. descrevem as características de um subtipo de UCInd, a urticária colinérgica, seus mecanismos, seu impacto na qualidade de vida, seus diagnósticos diferenciais e a dificuldade de sua investigação5.

Portanto, embora tenhamos evoluído muito no conhecimento da UCE e, num patamar inferior, da UCInd, ainda temos muito o que aprender. Devemos lembrar que o diagnóstico da UCE é basicamente clínico e, portanto, valorizar a história e o exame físico, além de reconhecer e afastar diagnósticos diferenciais, como vasculite urticariforme e angioedema mediado por bradicinina.

Deste modo, uma diretriz sobre o assunto, urticária aguda ou crônica, pode nos auxiliar imensamente. Dias e cols. desenvolveram um guia prático baseado na diretriz internacional sobre urticária incluindo os principais tópicos sobre a doença. Nesta revisão, há descrição em detalhes, desde a definição até o tratamento para os pacientes com urticária, incluindo populações especiais, como os idosos e gestantes6.

 

Referências

1. Zuberbier T, Abdul Latiff AH, Abuzakouk M, Aquilina S, Asero R, Baker D, et al. The international EAACI/GA2LEN/EuroGuiDerm/APAAACI guideline for the definition, classification, diagnosis, and management of urticaria. Allergy. 2022;77:734-66.

2. Kolkhir P, Giménez-Arnau AM, Kulthanan K, Peter J, Metz M, Maurer M. Urticaria. Nat Rev Dis Primers. 2022;8:61.

3. Magerl M, Altrichter S, Borzova E, Giménez-Arnau A, Grattan CEH, Lawlor F, et al. The definition, diagnostic testing, and management of chronic inducible urticarias - The EAACI/GA(2) LEN/EDF/UNEV consensus recommendations 2016 update and revision. Allergy. 2016;71:780-802.

4. Pereira H, Lopes JC, Carrapatoso I, Todo-Bom A. Chronic spontaneous urticaria: correlation of basophil counts with disease control and response to anti-IgE therapy. Arq Asma Alerg Imunol. 2024;8(2):146-50.

5. Azizi GC, Dortas-Junior SD, Bastos-Junior RM, Lupi O, Valle SOR. Testes de provocação na urticária colinérgica: necessidades não atendidas [Carta]. Arq Asma Alerg Imunol. 2024;8(2):178-9.

6. Dias GAC, Agondi RC Brandão LS, Mansour E, Santos PFAM, Campinhos FL, et al. Atualização do Guia Prático da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia para o Diagnóstico e Tratamento da Urticária baseado na diretriz internacional. Arq Asma Alerg Imunol. 2024;8(2):91-115.

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